Mahommah Gardo Bhaquaqua.
Biography of Mahommah G. Baquaqua.
A native, of Zoogoo, in the interiro of Africa.
Edited by Samuel Moere, Esq. (Detroit: GeorgeE. Pomery and co., Tribune.
Biography of Mahommah G. Baquaqua.
A native, of Zoogoo, in the interiro of Africa.
Edited by Samuel Moere, Esq. (Detroit: GeorgeE. Pomery and co., Tribune.
Office, 1854) pp. 40·57).
Tradução: Sonil Nusscnzweig.
Tradução: Sonil Nusscnzweig.
Revista Brasileira de História, V 8, N 16, ANPUH/ Marco Zero, 1989.
O texto da biografia de Mahommah G. Baquaqua.
Trata-se de um ex-escravo, sua vida na África, sua escravização e transporte para o Brasil, de suas experiências como escravo em Pernambuco junto a um padeiro, sua venda para o capitão de um navio que viajava até o Rio Grande do Sul, sua viagem até os Estados Unidos, da fuga para conseguir a liberdade, sua viagem ao Haiti, uma viagem de volta aos Estados Unidos e daí para o Canadá; a narrativa de uma vida extraordinária que também traz dados extraordinários sobre as experiências escravas no Brasil e nas Américas. Um documento raro, especialmente se pensamos na escassez de testemunhos escravos diretos sobre a escravidão no Brasil. Esclareço que este texto foi publicado em Detroit em 1854. Escrito na primeira e na terceira pessoa, pois o relato foi compilado e editado por Samuel Moore, engajado na luta abolicionista. Os limites desta revista. ( 269)
O barco em que os escravos foram colocados era grande e impulsionado por remos, embora também tivesse velas. No entanto, como o vento não era suficientemente forte, tinha-se que usar também os remos. Estávamos há duas noites e um dia nesse rio, quando chegamos a um lugar muito bonito, cujo nome não me lembro.
Por fim, quando chegamos à praia, e estávamos em pé na areia , oh! como eu desejei que a areia se abrisse e me engolisse. Não sou capaz de descrever minha desolação. O leitor pode imaginar, mas qualquer coisa parecida com um esboço de meus sentimentos não seria, nem de longe, um retrato fiel.
Escravos vindos de todas as partes do território estavam ali e foram embarcados, o primeiro barco alcançou o navio em segurança, apesar do vento forte e do mar agitado; O próximo a se aventurar, porém, emborcou e todos se afogaram, com exceção de um homem. Ao todo, trinta pessoas morreram. O homem que se salvou era muito corpulento e conseguiu se elevar a proa. Ele tinha uma corrente na mão, que agarrava com muita força, procurando equilibrar O barco. Quando O barco virou, ele foi lançado 30 mar com os outros. Mas, subindo à superfície de algum jeito embaixo do barco, ele conseguiu revirá-lo. Assim, salvou-se saltando para dentro do barco quando este se endireitou. Isso exigiu muita força, e o fato de ser um homem vigoroso lhe deu vantagem sobre os demais. Fui colocado no próximo barco que seguiu rumo ao navio. Mas Deus houve por bem me poupar, mais uma vez por alguma boa razão. Fui colocado no mais horrível de todos os lugares. (P 271)
Durante minha viagem no navio negreiro. consegui aprender um pouco de português com aqueles homens que mencionei antes e, como meu senhor era um português. podia compreender muito bem o que ele queria e lhe dei a entender que faria tudo o que ele precisava, bem quanto me fosse possível, e ele pareceu bastante satisfeito com isso.
A única comida que tivemos durante a viagem foi milho velho cozida. Não posso dizer quanto tempo ficamos confinados assim, mas pareceu ser muito tempo. Sofríamos muito por falta de água que nos era negada na medida de nossas necessidades. Um quartilha por dia era tudo que nas permitido e nada mais. Muitos escravos morreram no percurso. 272
“O Navio Negreiro. Seus horrores. ah! quem pode descrever? Ninguém pode retratar seus horrores tão fielmente como o pobre desventurado, o miserável desgraçado, que lenha sido confinado em seus portais. Oh amigos da humanidade tenham piedade do pobre africano, alijado e afastado de seus amigos e de seu lar. ao ser vendido e depositado nos porões de um navio negreiro.”
Sim. até mesmo entre eles. Mas. vamos ao navio! Fomos arremessados, nus, porão adentro. os homens apinhados de lado e as mulheres do outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar em pé. éramos obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós. o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e a fadiga..
Oh! a repugnância e a imundície daquele lugar horrível nunca serão apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cérebro distraído, lembrarei daquilo.
Nosso sofrimento era da nossa conta não tínhamos ninguém com quem pudéssemos compartilhá-lo, ninguém para cuidar de nós ou até mesmo nos dizer alguma palavra de conforto. Alguns foram jogados ao mar antes que seus corpos exalasse o ultimo suspiro. Quando supunham que alguém não iria sobreviver, era assim que se livravam.
P 272
Chegamos em Pernambuco, América do Sul. de manha cedo e o navio ficou zanzando durante o dia sem lançar âncora. Ficamos sem comida e sem bebida o dia inteiro e nos foi dado a entender que deveríamos permanecer em silêncio absoluto, sem clamor algum senão nossas vidas estariam em perigo.
Em breve me puseram para trabalhar pesado, trabalho a que ninguém é submetido, a não ser escravos e cavalos. Quando este homem me comprou, ele estava construindo uma casa. Era necessário buscar pedras para a construção a um distancia considerável, do outro lado do rio, e fui forçado a carregá-las. Eram tão pesadas que três homens foram incumbidos de erguê-las e colocá-las sobre minha cabeça. fardo que era obrigado a sustentar por pelo menos um quarto de milha, até o local onde se encontrava o barco. Às vezes, a pedra exercia tanta pressão sobre minha cabeça que era obrigado a joga-la no chão. Meu senhor ficava bravo quando isso acontecia e costumava dizer que o cassoori “(cachorro)" havia jogado a pedra no chão enquanto eu, no íntimo, pensava que ele é que era o pior cachorro; mas era apenas um pensamento ,já que não ousava expressa-lo em palavras.
273
Regularmente orações com a família duas vezes por dia. mais ou menos da seguinte maneira: Ele tinha um grande relógio na entrada de sua casa dentro do qual havia algumas imagens feitas de barro, que eram utilizadas no culto.
Nós todos tínhamos que nos ajoelhar diante delas; a família na frente e os escravos atrás. Fomos ensinados a entoar algumas palavras cujo significado não sabíamos. Também tínhamos que fazer o sinal da cruz diversas vezes. Enquanto orava, meu senhor segurava um chicote na mão e aqueles que mostravam sinais de desatenção ou sonolência eram prontamente trazidos à consciência pelo toque ardido do chicote. Esta era principalmente a sina das escravas, que adormeciam apesar das imagens, das persignações e de outros divertimentos semelhantes.
As coisas iam de mal a pior e eu andava muito ansioso por trocar de senhor, então tentei fugir mas logo fui apanhado, atado e restituído a ele.
Em seguida, tentei ver o que me aconteceria se fosse desleal e indolente. Assim, um dia, quando me mandaram vender pão como de costume, vendi apenas uma pequena quantia e, com o dinheiro que recebi, comprei uísque e bebi à vontade, voltando para casa bastante embriagado. Quando fui fazer as contas da diária. meu senhor pegou minha cesta e descobrindo o estado em que as coisas estavam, fui muito severamente espancado. Eu disse a ele que não deveria mais me açoitar e fiquei com tanta raiva que me veio à cabeça a idéia de matá-lo e, em seguida, suicidar-me. Por fim, resolvi me afogar.
Preferia morrer do que viver sendo um escravo. Corri então até o rio e me joguei na água mas, como fui visto por algumas pessoas que estavam em um barco, fui salvo. A maré estava baixa, senão seus esforços seriam provavelmente sido inúteis.(...)
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